ESG na Estratégia ou Só Marketing? O Que Falta para Sairmos do Discurso e Gerarmos Impacto?

Há tempos, o mundo corporativo debate temas como sustentabilidade e a forma de conduzir os negócios. Muito se fala sobre repensar modos de produção e consumo e definir responsabilidades essenciais. Conceitos como Desenvolvimento Sustentável, Triple Bottom Line (TBL), Economia Circular, Economia Verde, Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e, mais recentemente, ESG (Environmental, Social & Governance) têm ganhado destaque, refletindo a urgência de alinhar práticas empresariais a objetivos mais amplos.

Fico aqui com vários questionamentos que podem nos levar ao caminho das respostas: Se tantos conceitos foram desenvolvidos nas últimas décadas, por que os resultados práticos ainda são escassos?

A resposta, na prática são mais perguntas, mas é fato que apesar da relevância e do discurso sobre a importância dessas questões, muitas empresas ainda não incorporaram esses temas de forma estratégica e genuína em seus negócios. É comum ouvir que uma empresa se preocupa com sustentabilidade ou que adota práticas ESG, mas será que essas questões estão recebendo a mesma atenção no planejamento estratégico que as análises financeiras, metas de vendas ou estratégias de marketing?

As metas de sustentabilidade são tão desafiadoras quanto as de crescimento do mercado?
Há revisões periódicas e análises que abram caminho para novos patamares de resultados ambientais, sociais e de governança?

A verdade é que poucas empresas realmente integram essas práticas ao seu core business. Muitas ainda encaram ESG como um complemento de marketing – uma forma de “ficar bem na foto” –, e não como um compromisso estratégico. Os departamentos de sustentabilidade, muitas vezes, funcionam como um adendo e, embora se invista em certificações e selos de conformidade, o risco do “greenwashing” permanece elevado.

Recentemente, assumi o desafio de tracionar a AgroGoods, uma startup de impacto social que teve seu caráter inovador e relevante reconhecido, sendo selecionada para participar dos programas de aceleração SEBRAE Startups (Start) e também no Inova Interior de SP – i2SP Powered by InovAtivada, esse em parceria com o MDIC, Fundação CERTI, Wadhwani Foundation.

Nesse último ano, dediquei grande parte do meu tempo a esses desafios e a dialogar com representantes de diversas indústrias no Brasil, em feiras, encontros, reuniões presenciais e também aqui pelo LinkedIn. Meu objetivo? Explorar parcerias em um projeto que reduz o êxodo rural e aumenta a renda de trabalhadores do campo, gerando impacto social.
O mais interessante é que isso acontece sem exigir qualquer investimento direto das empresas. Elas podem vender seus produtos através do projeto, ganhando visibilidade por impactar positivamente e, assim, fortalecendo suas agendas de ESG.

Para minha surpresa, mesmo empresas com programas internos de ESG frequentemente não demonstraram flexibilidade ou poder de ação para ir além de suas rotinas corporativas. Em muitos casos, os representantes não tinham autonomia para inovar, integrar novas iniciativas que gerassem impacto real, ou sequer agregar mais um projeto ao seu escopo de atuação.
Apesar desse cenário, mantenho meu otimismo. Acredito que o Brasil está se adaptando às mudanças irreversíveis e que o ESG, por sua natureza estratégica, ganhará força por aqui, assim como já acontece em mercados desenvolvidos. Esse assunto já está no mercado financeiro, líderes globais como Larry Fink, CEO da BlackRock, têm alertado que empresas que ignorarem essas questões enfrentarão prejuízos financeiros, e investidores começam a considerar critérios socioambientais em suas decisões.

Não se trata apenas de preservar o futuro das próximas gerações – uma missão já nobre por si só –, mas de repensar como as empresas definem suas estratégias de crescimento. No mercado orientado ao lucro, questões ambientais e sociais tradicionalmente ficam em segundo plano, e o impacto positivo se torna mais uma promessa do que uma realidade.
O conceito de ESG traz uma diferença crucial: a governança. Ela coloca as práticas socioambientais no centro das decisões corporativas, estabelecendo regras e políticas claras que transformam compromissos em ação. A partir daí, as empresas podem se alinhar aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, repensando suas estratégias de uma maneira que impacta diretamente o mundo.

É esse vínculo entre governança e resultados financeiros que me deixa esperançoso. Quando prejuízos econômicos se tornam a consequência da inércia em questões socioambientais, essas pautas deixam de ser acessórios e passam a compor os objetivos e estratégias centrais das empresas.

A jornada do ESG não é apenas sobre boas práticas ou cumprir metas ambientais e sociais, mas sobre transformar a maneira como as empresas se posicionam e operam no mercado. Para sairmos do discurso e gerarmos impacto real, é necessário que sustentabilidade e governança não sejam tratados como meros adendos, mas como pilares estratégicos que permeiam todas as decisões corporativas.

O que falta, então, para avançarmos?

Em minha opinião, é essencial que líderes empresariais olhem para ESG com o mesmo rigor que dedicam às metas financeiras e de crescimento. Precisamos de coragem para integrar práticas socioambientais na essência do negócio, desafiando o status quo e movendo-se além da superficialidade do marketing. Somente assim poderemos criar um futuro onde o impacto positivo não seja apenas uma promessa, mas uma realidade concreta.
A hora de agir é agora! Chegou o momento de transformar compromissos em ações que fazem a diferença.
Fica como desafio a pergunta: O que falta para sairmos do discurso e gerarmos impacto?

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